domingo, 17 de novembro de 2013

As propriedades naturais e a busca por padrões

Desde os tempos remotos, o ato humano que mais transformou o mundo foi o de questionar o funcionamento das coisas. A busca pelo porquê de tudo nos fez observar os fenômenos, coletar dados, formular hipóteses e, por fim, compreender a razão do mundo ser como é. A assimilação dos fenômenos se faz através da percepção sensorial e do processamento lógico que realizamos.

A mente humana é treinada para buscar padrões, pois através deles ela consegue estabelecer normas que a guiam através dos processos naturais. Essa habilidade de identificar padrões na natureza é a responsável pelo nosso sucesso como espécie evolutiva. Note que os fenômenos naturais obedecem a certas normas comuns: antes que as gotículas de chuva caiam, formam-se as nuvens carregadas; quando o Sol está a pino, sentimos mais calor; os objetos sempre caem na vertical; a água se transforma em gelo nas baixas temperaturas, etc. Esta repetição periódica e imutável dos eventos nos permite reconhecer os padrões.

A obsessão por padrões não se limita à ciência, pois a arte também busca pela ordem e simetria, admiramos um tigre com suas belas listras ao longo do corpo, mas se este mesmo tigre possuir duas cabeças e seis patas, de belo ele se passará por monstro, pois estará fugindo ao padrão e isto nos incomoda. As belas espirais de Fibonacci podem ser encontradas frequentemente em várias formas naturais como: as folhas das cabeças das alfaces, a couve-flor, as camadas das cebolas, os padrões de saliências dos ananases e da pinhas, os caracóis, as tempestades, as galáxias espirais.

O astrônomo, ao vasculhar o céu, faz uma busca por informações, uma coleta
sensorial de dados que no futuro irá possibilitá-lo identificar padrões nos movimentos celestes e através deles traçar órbitas e entender ciclos de eventos cósmicos. A busca por evidências é o que nos permite remover a cortina da dúvida e a desvendar as leis naturais. Já ouviram falar das Três Leis de Newton? Do Teorema de Pitágoras? Todas estas leis e equações foram descobertas através do reconhecimento de padrões naturais.

É com esta habilidade que conseguimos prever os acontecimentos celestes, pois descobrimos as leis que regem os fenômenos e a partir delas traçamos rotas futuras para aquilo que desejamos saber. E o melhor de tudo é que conseguimos fazer isto com uma grande chance de acerto! Muitos se impressionam ao ver um astrônomo dizer que em determinada data ocorrerá um eclipse, ou que a Lua estará ao lado de Vênus, ou que Júpiter estará em determinada direção, nada disso é magia, é pura matemática e dedução lógica. Assim como um carro que percorre uma distância de cem quilômetros à velocidade média de cem quilômetros por hora chegará ao seu destino em uma hora, o planeta também possui trajetória e velocidade bem definidas que nos permitem prever a sua posição no futuro.

A descoberta do planeta Netuno é triunfo da matemática astronômica, pois devido às observações de Urano, notou-se que este planeta nunca estava aonde previsto pelos cálculos, surgiu então a hipótese de que haveria um outro planeta em uma órbita mais externa do que a de Urano. A partir dos cálculos orbitais, o astrônomo francês Le Verrier pediu então a Johan Gottfried Galle (1812-1910), um astrônomo alemão, que explorasse uma região específica do céu e ele constatou que a menos de um grau da posição prevista por Le Verrier, havia de fato um outro objeto que ninguém havia observado antes, este objeto era o planeta Netuno.

Para uma grande parcela da sociedade é muito difícil reconhecer as propriedades cósmicas da natureza, pois não há correlação entre boa parte delas e os eventos cotidianos. O tamanho, peso, velocidade e várias outras características dos objetos celestes, em geral, excedem todos os padrões conhecidos na Terra. Ao usarmos os objetos conhecidos aqui para compararmos com os celestes é como se fizéssemos uso de uma régua de trinta centímetros para medir a distância entre duas cidades, ou seja, estaríamos utilizando uma ferramenta com fator de escala inadequado para aquela função. Porém, sabemos que a natureza é a mesma, mas em escalas dimensionais e energéticas completamente diferentes das que presenciamos em nossas vidas cotidianas.

O papel do astrônomo é aprender a falar o idioma das estrelas, não através do horóscopo ou dos mapas astrais, mas através do conhecimento gerado a partir dos dados observacionais. Dessa forma, ele é capaz de descobrir novas estrelas, planetas, asteróides e cometas, o que de fato é feito, bem como o monitoramento destes corpos, pois, caso algum deles ofereça risco à vida na Terra, é necessário que conheçamos os elementos orbitais de tal objeto para traçarmos a sua possível rota de colisão e avaliação de riscos.

O astrônomo amador é de fundamental importância neste aspecto, porque monitora constantemente o céu e envia os seus relatos observacionais aos centros de pesquisa colaborando com as descobertas. Contudo, isto não é uma regra, porque há também quem admira o universo única e puramente por contemplação, sem rigor científico algum e nem por isto é menos importante.

 
Referências:
http://permacoletivo.files.wordpress.com/2007/08/pesquisa-acao-sobre-padroes-visuais.pdf
http://www.apolo11.com/tema_astronomia_netuno.php
http://www.mat.uc.pt/~mat1131/Fibonacci.html
http://misteriosdomundo.com/