À medida que adquirimos
experiência com o telescópio nos tornamos mais exigentes e mais seletivos com a
forma na qual aplicamos o nosso tempo. A montagem, geralmente, deixa de ser
aquela azimutal básica, para se tornar uma equatorial; o acompanhamento dos astros
deixa de ser feito manualmente para ser motorizado; aquela luneta carregada de
aberrações óticas é substituída por outro telescópio de melhor qualidade ótica;
passamos a documentar as observações, a fazer imagens e até mesmo pesquisas
científicas.
No meu
caso em específico, após alguns anos observando o firmamento, passei a
registrá-lo também em imagens feitas com uma câmera digital semi-profissional
acoplada ao telescópio. Para isso necessito de uma montagem equatorial alinhada
com o eixo de rotação da Terra que me permita realizar fotos de longa exposição
sem rastros e borrões. Quanto maior a precisão que eu obtiver com o
acompanhamento sideral, mais fácil será obter fotos de melhor qualidade.
Para
obtermos mais precisão no acompanhamento sideral é necessário refinar o
alinhamento entre o eixo polar da montagem equatorial e o eixo de rotação da
Terra (linha norte-sul geográfica). O alinhamento preciso exige mais tempo para
ser atingido, pois utilizamos o Método da Deriva que calibra os ajustes através
de mínimos deslocamentos observados num dado período de tempo. Em média, para
um processo com o mínimo de aceitabilidade, eu necessito de duas horas para
montar e alinhar o meu telescópio e assim deixá-lo pronto para a sessão de
astrofotografia.
Uma
maneira de poupar este tempo é deixar o telescópio em uma estação fixa alinhado
permanentemente com o pólo sul celeste, para isso faz-se necessário uma
estrutura que proteja o equipamento das intempéries naturais (sol, chuva,
poeira, ventos). Tal estrutura se materializa na forma de um pequeno
observatório astronômico que acomodará o telescópio e permitirá a abertura
total ou parcial do teto da instalação.
O
primeiro passo para a construção do observatório é o píer (pilar) sobre o qual
o telescópio será instalado de forma definitiva. Há quem possua o observatório
e que mantenha o telescópio em seu interior sobre o mesmo tripé fornecido no
ato da compra, porém, eu, particularmente, defendo a construção de um píer
porque ele se apresenta muito mais estável do que os tripés mais comuns
fornecidos pelo mercado e ocupam uma área muito menor no interior do
observatório, além disso, ele facilita muito a vida de quem vive em regiões de
baixas latitudes (<20°) pois não possuem o incômodo do eixo de DEC esbarrando
em uma das pernas do tripé.
Inicialmente
devemos selecionar o local onde será construído o píer, de preferência que
tenha o pólo sul celeste acessível e uma boa área de visibilidade da abóboda
celeste. Recomendo que se faça uma pequena sapata de concreto em volta do píer
para garantir maior estabilidade também (sou bem detalhista sim), desta forma,
selecionei uma área de 0,5 mt quadrado que receberá o píer no centro.
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Área de 0,5 mt quadrado marcada para iniciar os trabalhos. |
O próximo passo é furar o solo no centro da área selecionada, no meu
caso que uso telescópio refrator cujo foco é feito na parte posterior do tubo,
necessito que o píer seja mais alto sendo 1,00 mt de altura e 0,80 mt de
profundidade.
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Retirada do gramado. |
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Cavidade com 0,80 mt de profundidade sendo conferida pela minha assistente. |
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Molde para a sapata de concreto. |
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Cano PVC de 150mm com 1,80mt de comprimento e armação de ferro (treliça) com o mesmo comprimento. |
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O uso de um prumo é altamente recomendável para conferir o alinhamento do píer garantindo a sua perpendicularidade. |
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Gabarito de madeira com 3 barras roscadas (0,5" e 0,50 mt de comprimento) com chumbadores em uma das extremidades. |
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O gabarito posiciona as barras a 120°. |
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Estrutura sendo montada e preparada para receber o concreto. |
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Espaçadores para manter o tubo no local correto. |
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Interface em tecnil feita especificamente para o cabeçote da montagem EQ5. |
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Após dois dias curando, retirei o molde de madeira. A montagem ficou perfeitamente acoplada ao píer. |
Píer concluído e perfeitamente estável. O próximo passo será a construção da casinha móvel para abrigar o telescópio.
A segunda e última parte será publicada na próxima semana.
Abraços!