quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Dá para fotografar os Pilares da Criação com uma lente?

Pilares da Criação fotografados pelo telescópio espacial James Webb

Nos últimos dias fomos presenteados com imagens inéditas dos Pilares da Criação feitas pelo telescópio espacial James Webb, então acho muito oportuno demonstrar o quanto uma pessoa em casa está conectada com tudo isso.

Fizemos um vídeo incrível sobre o assunto, veja no YouTube: https://youtu.be/ljPMKWszUZQ

Importante mencionar que: as imagens são inéditas do ponto de vista que esta foi a primeira fotografia feita com o James Webb dos Pilares da Criação, pois este é um dos objetos mais fotografados e estudados pela humanidade.

Mas o que são os Pilares da Criação?
Resumidamente são enormes estruturas de poeira e gás no coração da Nebulosa da Águia, na constelação de Serpente. É uma região recheada de jovens estrelas porque é justamente um local de criação de novas estrelas, daí a origem do seu nome. Estas estruturas ficaram muito famosas em virtude de uma foto tirada em 1995 com outro telescópio espacial, o nosso querido Telescópio Hubble. Você que curte astronomia certamente já viu esta foto em algum livro ou algum site especializado no tema, pois é uma foto emblemática e muito querida pelos amantes da astronomia.

Foto do telescópio espacial Hubble

O que torna a imagem do James Webb tão especial?
Bem, em primeiro lugar temos a lacuna de 27 anos entre a foto do Hubble e a do James Webb, então o gap tecnológico entre ambas as imagens é assustador! O Hubble quando foi lançado utilizava o que havia de mais moderno na época em termos de tecnologia, o mesmo se aplica ao James Webb, que foi lançado ao espaço em 25 de dezembro de 2021.

Qual o nosso lugar nisso tudo?
Falamos aqui sobre dois colossos da astronomia, isto é, dois telescópios espaciais responsáveis por entregar imagens instigantes do Universo. Agora vamos alterar a escala cósmica para uma pessoa sozinha e com uma lente fotográfica em mãos apontada para os Pilares da Criação!

Eu fotografei os pilares no dia 28 de julho de 2022 durante o 13º EBA (tem até um vídeo no meu canal sobre o evento - Link) enquanto que o Webb apresentou a dele em 19 de outubro de 2022. Na minha imagem vemos que o campo é muito maior, isto porque estou trabalhando numa escala de imagem muito maior também, e com muito menos ampliação do que o Hubble ou o Webb. Então como estou ampliando menos, o meu campo é bem maior pegando não apenas a Nebulosa da Águia como também a Nebulosa Ômega, que é outro objeto fantástico.

Foto do autor: Nebulosa da Águia e Nebulosa Ômega

Na foto abaixo vemos o equipamento completo que utilizei para fazer a foto. A lente possui 135mm de distância focal e 67,5mm de abertura, enquanto que o Hubble, por exemplo, possui 57.600mm de distância focal e 2.400mm de abertura! É muito superior! Há outros fatores a serem levados em consideração como o sensor utilizado e tudo mais, pois tudo isso influencia nas características do campo, mas aqui é apenas um breve informativo.

Equipamento utilizado para fazer a foto.

Mas cadê os pilares na sua foto?
Lembram que eu disse que eles ficam no coração da Nebulosa da Águia? Então vamos dar um zoom aqui nesta nebulosa. Então conforme a gente vai dando zoom percebemos a estrutura no local mencionado, vejam que temos muito menos resolução do que o Hubble e principalmente em relação ao Webb, mas o objetivo não é competir ou muito menos superar. O objetivo é apresentar o quão próximos estamos disso tudo e principalmente o quanto estamos conectados com o Cosmos!

Pilares da Criação no centro da imagem.

Vou deixar os links das imagens em resolução máxima para comparação (caso queiram fazer isso). Vocês verão que a diferença de resolução e detalhes é absurda, justificando toda a pesquisa e investimento nos observatórios profissionais, principalmente os espaciais.


Espero que tenham gostado.


Abraços!

sábado, 15 de outubro de 2022

Uma aranha no telescópio

Você sabia que tem uma aranha em alguns telescópios e que a forma dela influencia como você vê as estrelas no telescópio?

As estrelas são pontos de luz no céu noturno, no entanto ao observá-las por um telescópio o instrumento pode influenciar na forma como a vemos.

Telescópio refrator (luneta)

Um telescópio refrator, popularmente conhecido como luneta (aquele que tem uma lente na parte da frente e você coloca o olho na parte de trás do tubo, igual este aqui atrás), é o que mais se aproxima da forma real de uma estrelas porque ele não possui obstrução alguma na objetiva (ao menos se ele estiver certinho, sem nenhum problema).

Telescópio refletor (newtoniano)

Já os telescópios do tipo refletor possuem um arranjo ótico que exige geralmente um espelho primário (que é o responsável em coletar e focalizar a luz proveniente das estrelas) e um espelho secundário (que direciona esta luz ao olho do observador ou à câmera fotográfica). A questão é que este espelho secundário precisa de um suporte que o coloque na posição certa, ou seja, no centro do eixo focal do espelho primário e isto CRIA UMA OBSTRUÇÃO.

"Pilares da Criação" foto tirara pelo telescópio espacial Hubble.

Obviamente esta obstrução afetará de alguma forma a imagem, quanto maior a obstrução menos contraste terá a imagem formada. Além disso, a forma do suporte (POPULARMENTE CHAMADO DE ARANHA) também afeta a imagem pois criará padrões de difração nas estrelas, o que chamamos de SPIKES!

O que são SPIKES?
R.: Eles são aqueles “riscos” que vemos se cruzarem nas estrelas mais brilhantes, seja em fotos ou na observação visual. Eles aparecem justamente pela presença do suporte do espelho secundário.

Ensaio com diferentes tipos de "aranha"
Fonte: https://www.cloudynights.com

Aqui vemos um show de informações, podemos aprender muito com esta imagem. Notem que de acordo o tamanho do secundário, a quantidade de hastes, a forma das hastes… tudo isto influencia na imagem que veremos naquele telescópio.

Iremos construir uma nova aranha para o telescópio que estamos reformando aqui na oficina, durante este processo nos foi sugerido que adotássemos uma aranha com hastes curvas para ELIMINAR OS SPIKES. Para alguns PURISTAS os spikes são uma aberração ótica, um defeito, que foi introduzido no sistema, há argumentos para sustentar isto, contudo há quem não se incomode com a presença deles e até ache bonito (EU SOU UM DELES!).

  • Playlist no YouTube para os vídeos da reforma do telescópio: Link

Particularmente vejo muita beleza neste padrão de difração, cresci lendo livros e revistas de astronomia que traziam fotos das estrelas produzidas pelos grandes observatórios da época, inclusive o Hubble, e todos eles traziam spikes em suas imagens, isto criou uma espécie de memória afetiva em mim, associar as estrelas com os spikes virou um imperativo.

Voltemos à tal aranha de haste curva... o que de fato ocorre é que ela apenas dispersa a luz dos spikes no campo. Eles continuam lá, apenas tão dispersos que não os percebemos. Contudo há um custo, ELIMINAM-SE OS SPIKES, MAS PERDEMOS CONTRASTE! Vejam na imagem que traz os padrões a diferença de contraste na imagem produzida pela aranha de hastes curvas. Então não há mágica alguma.

Ao lado vemos a diminuição do contraste ao usar hastes curvas

É importante destacar que é sempre recomendável buscarmos um meio-termo em nossos projetos, pois dificilmente conseguiremos abraçar o melhor dos dois mundos ao mesmo tempo. Um telescópio é algo muito prazeroso de se construir. Então escolha o seu modelo preferido, respeite as proporções do projeto e SE DIVIRTA MUITO NO PROCESSO!

Recomendo que vejam o vídeo sobre o assunto no nosso Canal do YouTube:

E não vamos brigar com o coleguinha se tem ou não tem spike; se é feio ou bonito; se é certo ou errado; spike é igual o fio-ó-fió, cada um tem o seu! (rsrs... brincadeira!)

Aguardo vocês no próximo artigo no qual apresentaremos a nova aranha do telescópio que estamos reformando, e VAI TER SPIKES KKKKKK!

Abraços!

sábado, 8 de outubro de 2022

Reparo do Foco no Infinito - Samyang 135mm F2

A tarefa de hoje é reparar a posição de foco no infinito de uma lente objetiva Samyang 135mm F2 (lembrando que a Rokinon vende o mesmo modelo - são iguais!).

O problema:
A lente não foca no infinito (conforme demonstrado na imagem abaixo), portanto não consegue fotografar nitidamente objetos muito distantes, como a Lua e as estrelas, por exemplo.

Objeto no infinito, mas sem nitidez - (crop da Lua no frame).

 

Solução:
Ajustar o anel de foco da lente para permitir ampliar a zona de foco e assim conseguir imagens nítidas de objetos muito distantes.

Ferramentas necessárias:
  • chave philips 1.5
  • chave de fenda 1.8
  • luvas
A grande vantagem desta tarefa é que não faremos nenhuma intervenção na parte ótica da lente, isto torna o reparo muito mais simples de ser executado. Iremos apenas remover o anel de borracha do anel de foco, retirar a capa e remover um limitador de foco da lente. Com isto ganharemos cerca de 2mm a mais na zona de foco!
Remoção do anel de borracha

Após a retirada do end stop, basta fazer o processo reverso da desmontagem, tomando muito cuidado ao apertar os parafusos, afinal são parafusos com rosca muito fina em um corpo de plástico.
Posição do end stop

No vídeo do nosso canal no YouTube tem o passo-a-passo certinho de todo o processo:


Vejam como ficou o foco no infinito após o reparo:
Frame completo

Objeto no infinito, agora com nitidez - (crop da Lua no frame).

Vejam o comparativo do ANTES e do DEPOIS, notarão uma grande diferença!


Ambas as fotos foram tiradas no mesmo dia, com a mesma câmera e as mesmas configurações (abaixo):
  • Lente: Samyang 135mm F2 @F4
  • Câmera: Canon T3i
  • ISO: 100
  • Vel. obturador: 1/1600s

Espero que tenham gostado.


Abraços!

sábado, 1 de outubro de 2022

Bora reformar um telescópio!!!

Telescópio que será reformado

Estamos escrevendo esta publicação em setembro de 2.022, nesta era não temos nenhuma loja consolidada com telescópios à pronta entrega (saudades dos tempos do Armazém do Telescópio e da Astroshop). No cenário atual é muito difícil comprar um telescópio de qualidade. A única alternativa que temos neste momento são os fantásticos telescópios newtonianos de 114mm do talentoso Sandro Coletti, no entanto, é necessário encarar uma fila de espera e ficar limitado aos 114mm de abertura.

É importante destacar o momento que vivemos na astronomia amadora brasileira, um mercado escasso, em termos de equipamentos, principalmente no que se refere ao fator custo/benefício (não vale mencionar aqueles telescópios das multilojas, pois não são instrumentos de fato). O mercado de usados é outra lástima porque os maníacos querem vender um telescópio velho e comprar um carro com o dinheiro da venda.

Situação do espelho primário

Dito isto, definimos o panorama atual, portanto, se você tem um telescópio em casa, cuide com muito carinho do seu equipamento e, caso ele não esteja bem cuidado, considere a possibilidade de reformá-lo. Neste cenário, é o melhor a se fazer. Este é o meu caso!

A vantagem agora é que o Blog do Delberson conta com um canal no YouTube (link) e todas as etapas da reforma estarão registradas em vídeo!

Outro ponto forte é que os conceitos, técnicas e projetos abordados na reforma também são muito úteis para quem pretende construir um TELESCÓPIO DO ZERO!

O telescópio a ser reformado foi montado por mim em 2016, temos até uma publicação aqui no blog sobre ele (link). Também construímos uma montagem dobsoniana (a mais adorada pelos astrônomos amadores!) para este telescópio a partir de um guarda-roupas velho (link).

Transformação que fizemos

A ótica do telescópio é oriunda de um modelo bastante comercializado no Brasil na "época de ouro" das lojas brasileiras: trata-se de um SkyWatcher refletor newtoniano 150mm F/8. Deste modelo recebi os espelhos e o focalizador doados por um amigo na época, as demais peças foram desenvolvidas e construídas por mim.

Modelo da SkyWatcher

Este instrumento é muito interessante como primeiro telescópio e possui uma qualidade bem bacana também. Através desta reforma também aproveitarei o momento para fazer algumas atualizações ao projeto e deixá-lo mais robusto para algumas aplicações, principalmente astrofotografia planetária e de estrelas duplas.

O que faremos e o que teremos na série de vídeos que está sendo produzida:

  • Principal: realuminizar os espelhos;
  • Substituir o suporte do secundário (aranha);
  • Aprimorar a célula do primário;
  • Instalar dovetail tipo Vixen e anéis para colocar na montagem equatorial;
  • Motorizar o focalizador.
Objetivos:
  • Deixar pronto para astrofotografia;
  • Fotos da Lua, planetas e estrelas duplas;
  • Ensaios com DSO’s pequenos.


O primeiro vídeo da série já saiu e está fantástico! Vejam lá:

https://youtu.be/EkSkW90D8c0


Aguardo vocês na próxima publicação!


Abraço!

domingo, 25 de setembro de 2022

Dezenas de Telescópios no Mato: o EBA

Você sabia que existe uma espécie de StarParty no Brasil?

?     Mas o que é uma StarParty?
R.: São eventos muito populares nos Estados Unidos cujo tema central é a Astronomia Amadora.

Imagine uma amontoado de gente falando sobre o mesmo assunto, compartilhando a paixão pelo Cosmos, experiências observacionais, dados coletados, inovações técnicas de processamento, gambiarras astronômicas, pois é ESTE EVENTO É O EBA - O ENCONTRO BRASILEIRO DE ASTROFOTOGRAFIA!

Turma do EBA 2022

É o evento mais próximo de uma StarParty que você tem no Brasil, é uma congregação de gente legal que dá muita risada junto, pega sereno no escuro e principalmente: CELEBRA A AMIZADE!

O EBA existe há mais de uma década, este ano foi realizada a 13ª Edição, EU ESTAVA LÁ E VOU TE CONTAR COMO FOI. O evento esteve pausado por dois anos em razão da pandemia, em 2022 o evento foi realizado retomando esta maravilhosa tradição. Em virtude dos tempos pandêmicos, notei que esta edição foi uma pouco reduzida em relação aos anos anteriores. O fato de contar com dois finais de semana também ajudou a pulverizar a galera, então nem todo mundo se viu.

Há quem prefere acampar

O evento foi realizado num aconchegante lugar, um hotel fazenda em Formosa-GO. O principal é estar longe da poluição luminosa! VAMOS EM BUSCA DO CÉU MAIS ESCURO POSSÍVEL! A melhor parte do EBA com certeza foi rever os amigos! Além disso é muito legal ver as diferentes abordagens que cada astrofotógrafo faz para registrar o céu:

  • há quem leve telescópios enormes;
  • há quem leve lunetas leves e compactas;
  • outros levam câmeras fotográficas e lentes;
  • alguns montam verdadeiros observatórios no campo;
  • outros saem desbravando a mata adjacente buscando composições do céu com a paisagem local;
  • e há também quem não leva nada e se diverte do mesmo jeito.

Esta foi a minha terceira participação no evento e esta edição foi muito especial porque tive a oportunidade de gravar entrevistas (bate-papos) com personalidades icônicas da astronomia brasileira, pessoas especiais pois têm muita história legal para compartilhar.

Algumas astrofotografias que produzi no evento deste ano:





Recomendo a vocês que se inscrevam no canal da Oficina Astronômica (Link do Canal) porque nos próximos vídeos teremos as entrevistas que revelam toda a MAGIA DO EBA!

Vídeo: https://youtu.be/EtOYVRYTS2A

Abração a todos!

Céus limpos!

Uma nova era se inicia: A Oficina Astronômica


Numa tarde de domingo, mas precisamente em 4 de novembro de 2.012, nascia o Blog do Delberson, oriundo da necessidade de buscar uma nova casa em razão do fim do Multiply, este palco virtual era o local onde eu arquiva e apresentava os meus projetos astronômicos de garagem. Com o fim do Multiply nós migramos para o Blogger e criamos o Blog do Delberson.

Já se passaram dez anos, alguns muito produtivos e outros de puro ostracismo. Aqui no blog registrei muitos projetos, contei algumas histórias e, para minha grata surpresa, descobri que iniciamos uma comunidade, muitos se dirigiram até mim para contar o quanto o blog os inspirou e esta é a maior recompensa que um divulgador pode ter, que é: inspirar, ajudar, esclarecer, deixar um legado...

A verdade é que eu gostaria de ter sido mais produtivo, em termos de quantidade de publicações, em todos esses anos, pois muito do que foi desenvolvido por mim não veio para o blog. Agora, em setembro de 2.022, o blog não morre, mas ressurge com uma nova roupagem, pois irá subsidiar um projeto ambicioso: a OFICINA ASTRONÔMICA.

A Oficina Astronômica é uma ideia, um conceito velho que persiste em pleno século XXI. Estruturamos aquela boa e velha oficina de garagem em um CANAL DO YOUTUBE (Link do Canal). Neste canal teremos vídeos divertidos na órbita do tema astronomia e com diversos projetos no bom estilo FAÇA VOCÊ MESMO.

Na oficina você terá dicas sobre equipamentos, telescópios, câmeras, projetos, consertos, modificações, lentes, sistemas, gambiarras, tudo para estudar o céu a partir do seu quintal.

5 PILARES do CANAL: Foco na criação, diversão, baixo custo, desenvolvimento de garagem, faça você mesmo.

Com material completamente autoral, astrofotografias, timelapse, equipamentos, técnicas!

Espero que vocês continuem a nos acompanhar no blog e se inscrevam também no canal. São todos muito bem-vindos!

Abraço!